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Camillo Christófaro: O Lobo do Canindé
Quinta-feira, 15 de Novembro de 2001
 
Para um garoto que acompanha automobilismo hoje, pode ser difícil imaginar um dos maiores pilotos brasileiros morando no Canindé (bairro da Zona Norte de São Paulo) e sendo facilmente encontrado sujo de graxa em uma oficina mecânica. Há 30 anos era assim. Camillo Christófaro, o "Lobo do Canindé", nunca correu na F1 e, por pura falta de dinheiro, sequer tentou correr no exterior. Mas ele faz parte de algumas das mais memoráveis histórias do automobilismo brasileiro. Ídolo de uma geração (e também de todo um bairro, já que os moradores do Canindé compareciam em peso em Interlagos para torcer pelo vizinho), Camillo aliava a valentia dos pilotos de sua época a tiradas espirituosas, que ficavam ainda mais engraçadas com seu jeito despachado e italianado de falar.

Camillo morreu no dia 20 de agosto, aos 67 anos. Sua última corrida foi a Mil Milhas Brasileiras de 1989, também a última disputada no traçado original do circuito que ele conhecia tão bem. Terminou em 3º lugar, correndo de Opala em parceria com o filho Camilinho e Américo Bertini. Foi exatamente numa Mil Milhas, em 1966, que Camillo conseguiu a maior de suas inúmeras vitórias. Correndo com a famosa carreteira Chevrolet Corvette, em dupla com Eduardo Celidônio, ele ultrapassou os jovens Emerson Fittipaldi e Jan Balder na última volta. No pódio, o garoto Emerson, então com 20 anos incompletos, chorava e recebia o consolo de Camillo, que há anos tentava vencer esta prova: "Não fique assim. Você é novo, ainda vai ganhar muitas corridas". A carreira de Camillo começara em 1953, com o incentivo de seu tio - ninguém menos que Chico Landi. Na época, as corridas brasileiras mais importantes eram as de Mecânica Continental, nas quais corriam carros de Fórmula 1 (Ferrari e Maserati, principalmente) equipados com motores Corvette, Studebaker ou Ford com mais de 400 cavalos de potência - uma loucura, já que os motores de F1 de então tinham 300 cavalos. Com seu Maserati-Corvette, Camillo foi campeão da Mecânica Continental em 1955, 1956, 1957, 1958, 1960, 1961 e 1962. Só não foi campeão em 1959 porque um acidente o afastou de algumas provas.

Algumas histórias dão a medida exata do caráter de Camillo. Segundo colocado nas 12 Horas de Interlagos em 1967, ele protestou a vitória de José Carlos Pace/Anísio Campos, mas acabou se arrependendo e quis retirar a reclamação. Como os dirigentes se recusavam a fazê-lo, Camillo esperou pelo julgamento, que aconteceu dias depois. Na frente de todos, pediu que lhe dessem o papel através do qual havia formalizado o protesto - e, para surpresa geral, rasgou-o imediatamente: "Pronto, agora não tem mais confusão". Outra história mostra a esperteza do "Lobo do Canindé". Profundo conhecedor do autódromo de Interlagos, ele era um rei nas corridas noturnas - quando muitas vezes o desafio não era a escuridão, mas a neblina fortíssima que cobria o autódromo. Alguns pilotos sabiam disso e procuravam segui-lo, orientando-se pela luz de freio da carreteira número 18. Camillo percebeu o truque e deu o troco na corrida seguinte: ao se ver perseguido por um grupo de pilotos, acendeu no meio do retão uma luz de freio falsa, que fez todo o grupo que vinha atras "contornar" a Curva 3 muito antes da hora.

Dinheiro era algo com que Camillo não se importava. Nos anos 60, quando as equipes oficiais de fábrica eram uma verdadeira coqueluche no automobilismo, ele era um dos poucos pilotos de ponta que desprezavam essas escuderias: "Só entro em fábrica se for como sócio". Esse desprendimento ia às últimas conseqüências: "Às vezes faltava comida em casa, mas nunca faltou peça para o carro", conta Camillinho, que acabou inspirando o nome da "Escuderia Lobo" e, consequentemente, do próprio apelido "Lobo do Canindé", pelo qual Camillo era conhecido. "Quando eu tinha uns quatro anos, fui mostrar ao pintor da oficina uma revista em quadrinhos que tinha o personagem Lobinho, filho do Lobo Mau. Pedi para ele pintar o Lobinho na carroceria do carro e meu pai deixou o desenho lá. Virou Escuderia Lobo", conta. Quase 20 anos depois, em 1975, Camillo realizou um velho sonho: correr em dupla com o filho. Era a 6 Horas de Interlagos, e os dois correriam com o Maverick da Escuderia Lobo. Tinha tudo para ser uma grande festa, mas acabou em uma amarga decepção: eles lideravam quando, faltando menos de uma hora para o final, o velho Camillo bateu na Curva do Sol. "Eu sou um ?salame?, corro há mais de 20 anos e fiz uma besteira dessas", disse ao sair do carro. Mais tarde, confessou: "Eu estava muito emocionado e correr com o meu filho e acabei errando".

Um dos últimos contatos de Camillo com Interlagos foi no começo de 1994, quando uma revista especializada em automobilismo levou um grupo de antigos pilotos para testarem carros de rua. Camillo, Fritz D?Orey e Eugênio Martins (outras duas feras dos anos 50) pegaram um carro cada e fizeram um belo pega, até que a direção do autódromo os obrigou a parar. "Vocês não poderiam sair, não havia ambulância a postos", advertiu alguém, sem saber que aqueles respeitáveis senhores ganhavam corridas num tempo em que Interlagos era muito mais perigoso que hoje. Camillo não se conteve e disparou: "Meu amigo, se algum de nós saísse da pista seria porque teve um ataque cardíaco e morreu dentro do carro".

Texto de Luiz Alberto Pandini
 
Marcos Ferreira
 
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