21/02/2003 Tupiniquim sim. E agora com muito orgulho
Lá pelos primeiros anos da década de 80, quando iniciei profissionalmente no automobilismo, era comum usar o termo ?tupiniquim? de maneira pejorativa, de modo a expressar a inferioridade de nosso automobilismo em relação ao praticado em outros cantos do mundo.
O esporte da velocidade praticado então por essas bandas era de fato ?bem fraquinho?, e os motivos para tal eram muitos: os regulamentos eram feitos absolutamente sem qualquer tipo de critério técnico, deixando abertas margens para interpretações dúbias; a aplicação da regulamentação, mesmo que ruim, dificilmente se dava por parte de Comissários, que faziam vistas grossas a verdadeiras aberrações (assunto já comentado num ?Papo de Box? anterior).
Mas além dos já citados, o problema principal para que a carapuça de ?Automobilismo Tupiniquim? servisse perfeitamente ao nosso dizia respeito aos calendários, documentos que eram elaborados tardiamente, e que acabavam sendo mudados ao prazer dos ventos...
Era comum que a previsão de datas e locais das provas só fosse emitida em meados de março, o que levava pilotos a terem de viver o constrangimento de dizer a seus eventuais patrocinadores algo parecido com ?Preciso do seu apoio, mas não tenho idéia nem quando nem onde vou correr?...
Apenas para ilustrar a afirmação anterior, na ocasião, ouvi de dois pilotos (um deles ainda em atividade): ?Como não sabia as datas, inventei um calendário para colocar na proposta (de patrocínio)?.
Hoje os tempos são outros
Muita coisa mudou em termos de automobilismo brasileiro nos praticamente 20 anos desde que fui infectado pelo ?vírus? do amor ao esporte.
A começar por calendários, que atualmente são divulgados com antecedência, e salvo raríssimas excessos, obedecidos, quer no que diz respeito às datas neles expressas, quer nas praças por eles previstas.
Muito provavelmente em função da maior seriedade que campeia nosso esporte motorizado, também mudou para muito melhor o perfil dos responsáveis pelos certames.
Naqueles anos 80, verdadeiros picaretas se auto-intitulavam ?donos? de uma determinada categoria, e acabavam fazendo lambança, e das grandes, uma delas a de pegar um bom dinheiro numa determinada empresa para a compra de espaço para a transmissão televisiva das corridas, e simplesmente embolsá-lo, sem jamais contatar a tal emissora.
Hoje felizmente o perfil dos promotores é outro, basta para isso ver no que Aurélio Félix transformou a Fórmula Truck, o que Carlos Alberto Col fez com a Stock Car V8, e, mais recentemente, no que Pedro Paulo Diniz transformou a recém-chegada Fórmula Renault ao país...
Diante das mudanças de perfil já mencionadas, mudou também a visão das empresas, que hoje investem em automobilismo como ferramentas de marketing, e não mais apenas porque um filho ou sobrinho do dono de uma determinada organização está envolvido numa determinada disputa, como ocorria no passado.
O automobilismo daqui está fazendo escola também no que diz respeito ao esquema de resgate armado para as competições, tanto é verdade que a FIA importou para o Campeonato Europeu de Truck o esquema adotado nas provas da Stock Car V8 daqui.
É, meu amigo.
Nosso automobilismo de fato mudou para muito melhor, e cresceu bastante, o que fez com que os promotores das corridas também mudassem de filosofia, felizmente varrendo de suas mentes a prática comum dos anos 80 de ?Pague sua inscrição e não me encha mais o saco?...
Vivemos um grande momento de nosso automobilismo. Um momento em que o esporte está se transformando em verdadeira ferramenta de ?Business?, como ocorre nos mais diversos cantos do planeta.
Hoje temos Dirigentes, Promotores, Organizadores, Patrocinadores e Pilotos extremamente mais conscientes, e o esporte ganha muito com isso...
Hoje podemos sim dizer que o automobilismo brasileiro é ?Tupiniquim?, com extremo orgulho de usar a palavra sem o caráter pejorativo que rotulava o esporte há duas décadas. |