Muitos são os e-mails, que nos chegam comentando a perplexidade, pedindo maiores detalhes ou homenageando os pilotos Pedro Araujo, Ney Coutinho Junior e Jose Gimenez, falecidos no acidente automobilístico ocorrido na madrugada do ultimo sábado na cidade de Irati, no Interior do estado do Paraná. Muitos nos pedem para que não comentemos, que seu lamento seja silencioso. Outros nos enviam textos para serem publicados para que se tornem públicos os seus sentimentos.
Abaixo publicamos aqui mais uma destas homenagens enviadas, desta vez por Jorge César Gomes de Figueiredo, pai da kartista Bia Figueiredo que conseguiu condensar o espanto e dor de todos os que os conheciam.
Leia abaixo, na íntegra, o e-mail que nos foi enviado:
O Adeus aos Meninos da Velocidade
Na madrugada de sábado, em Irati - PR, uma tragédia causada por um ônibus desgovernado nos levou quatro jovens ligados ao automobilismo, três pilotos de ponta com vários títulos paulistas e nacionais, José Gimenez (20), Pedro Araújo (18) e Ney Coutinho (13), além do mecânico Gerson Silva de Souza (22), anônimo integrante do clube de técnicos que participam na formação de Barrichellos, Sennas, Ferrans, Da Mattas, Castroneves e tantos outros.
Pela manhã veio a notícia que chocou a todos, dezenas de telefonemas, incredulidade e cortantes prantos. Todos inconformados e derrubados. Uma etapa de campeonato paulista de kart suspensa porque os jovens pilotos mal tiveram vontade para levar seus carros para o abastecimento. Tristeza em todas as famílias que se contatavam na busca de informações que lhes abrandasse a dor.
Nos funerais a dor estampada na multidão de familiares, pilotos, pais de pilotos e membros da CBA-FASP, inconformados, olhares atônitos, perplexidade. As mentes paralisadas num aparente esforço conjunto de fazer o tempo voltar para trás e desfazer a tragédia. A saudade já doendo em todos que juntos tentavam se apoiar mutuamente.
Estes jovens tornaram-se parte de nosso ser, desde cedo, pela sucessão de milhares de imagens de movimentos e brincadeiras nos boxes, nos pódios e nos rachas nas pistas de Interlagos e deste mundo afora, nas revistas, na televisão, nas comemorações em nossas casas e em seus preparativos para saídas em turma nas noitadas, fazendo com que nossos sentimentos nos confundissem, amando-os como nossos filhos e, por vezes, causando dúvidas aos recém-chegados: ?- Afinal, você é pai de quem??. Estarão sempre em nossas mentes e em nossos corações, saudáveis, vencedores e sorrindo. Com uma história de vida rica e inesquecível para todos nós.
Nos encheram de orgulho por serem talentosos em suas especialidades, e por enfrentar com alegria a rotina e a dureza dos treinos, das viagens, das regras do esporte e da vida sob constante pressão desde a infância e, acima de tudo, por serem exemplares nas relações familiares e sociais.
Foram sensíveis aos esforços de seus pais na luta para conseguir o equilíbrio entre o orçamento familiar e os custos impostos pelo automobilismo e tiveram uma singela admiração por nós, pais de outros pilotos, ao perceberem que todos vivíamos no mesmo aperto.
Rogo para que tenham a merecida paz e, em nome de toda esta entristecida família do automobilismo brasileiro, agradeço a Deus que nos está dando a força e a coragem de suportar tamanha dor e, muito mais que isto, nos proporcionou a alegria de ter em nossas vidas a presença inesquecível de jovens com tamanha estatura.
Jorge Cesar Gomes de Figueiredo - Pai da piloto Bia Figueiredo
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